domingo, 20 de maio de 2012

O Cangaço e a nova onda de banditismo

Origem

Na segunda metade do século XIX ao princípio do século XX, predominava no Nordeste brasileiro o cultivo dos latifúndios. Essas grandes propriedades se encontravam exclusivamente nas mãos de poucos (dos ricos fazendeiros e coronéis) enquanto a população pobre sofria com os maus tratos dos poderosos e as precárias condições de vida.

É nesse contexto que surgem os cangaceiros, homens valentes que começaram a agir por conta própria, através das armas, desafiando grandes fazendeiros e cometendo agressões.


Normalmente eles são agrupados em três categorias:

- Os servidores eventuais dos grandes coronéis;

- Os de natureza política, que exibem o poder de que os latifundiários são detentores;

- Os autônomos, que assumem o comportamento marginal.

Para alguns especialistas, o cangaço teria nascido como uma forma de defesa dos sertanejos, diante da ineficiência do governo em manter a ordem e aplicar a lei. A questão é que ele foi uma onda de banditismo, crime e violência que se alastrou por quase todo o sertão do Nordeste brasileiro.

Consta que o primeiro homem a agir como cangaceiro teria sido o Cabeleira, como era chamado José Gomes. Nascido em 1751, em Glória do Goitá, cidade da zona da mata pernambucana, ele aterrorizou sua região, incluindo Recife. Mas foi somente no final do século XIX que o cangaço ganhou força e prestígio, principalmente com Antônio Silvino, Lampião e Corisco.

Características

Para combater esse movimento, o governo usava as chamadas "volantes", grupos de policiais disfarçados de cangaceiros. Esses grupos chegavam a ser mais violentos que os criminosos. Por vezes, a polícia intensificou os esforços para enfrentá-los, usando armamentos que os cangaceiros jamais conseguiram comprar, como submetralhadoras.

Mas o fato é que os bandos aterrorizaram o sertão, pilhando, assassinando e estuprando. Antes de invadir um povoado, um cangaceiro disfarçado visitava o mesmo para checar a quantidade de policiais e avaliar sua capacidade de resistência. A invasão era feita de surpresa, de forma que causasse pânico e caos, forçando os policiais locais a fugirem assustados.

As mulheres do vilarejo, em especial as mais jovens, estavam sujeitas a abusos sexuais e estupros. Já as autoridades locais ou colaboradores da polícia estavam sujeitos a enforcamentos.


Os cangaceiros eram vaqueiros habilidosos, que faziam as próprias roupas, caçavam e cozinhavam, trabalhavam com couro, e amansavam animais. Eles gostavam de enfeitar suas roupas e armas com moedas de prata, ilhoses brancos e flores estilizadas. Também usavam muitos anéis nos dedos e, no caso das mulheres, correntes de ouro com medalhões e medalhas.

Kit básico para o cangaço:

- Chapéu de couro com abas largas dobradas

- Munição (até 18 quilos) e armas (a mais comum era o rifle winchester 44)

- Bolsa (capanga) com remédios, fumo e brilhantina

- Punhal

- Lenço para proteger boca e nariz contra a poeira

- Roupa resistente com mangas compridas contra o sol

- Cantil com água ou cachaça

O cangaço terminou, mas a violência...
Lampião foi assassinado ao ser pego em uma cilada, junto com sua companheira e outros membros de seu grupo. Suas cabeças foram cortadas e exibidas em público, como uma forma de reprimir o aparecimento de novos líderes.

O cangaço foi enfraquecendo, uma vez que os outros bandos já se encontravam debilitados, mas a violência, nas suas mais diversas modalidades, ainda é algo muito comum na sociedade atual.



Os motivos são os mesmos?

As autoridades públicas atuam de forma eficiente no combate a essas novas modalidades de violência?

Esses novos criminosos assustam as forças policiais de hoje, tal como os cangaceiros atemorizavam as de antigamente?

E quanto à população pobre? Como anda sua condição de vida?

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Afinal de contas, que relação podemos estabelecer entre a violência do cangaço a dos dias atuais?

3 comentários:

A Amálgama da História disse...

Sua análise, professor, fez-me lembrar e muito a música de Chico Sciense sobre o banditismo: "Banditismo por pura maldade, Banditismo por necessidade..." Talvez, os figurinos do oprimido transformem-se no tempo, mas jamais sua existência é extinta, o "banditismo" de hoje reside nas favelas, é um efeito muito mais ampliado da modernidade brasileira, não é mais trajado de roupas de couro, ou de chapéus, o caganço foi somente um dos efeitos do latifúndio e do coronelismo, dentre outros problemas. Muito bom o questionamento, pode nos levar a muitos debates, convergências e divergências. Professor Alexandre, fiquei feliz com o espaço do Blog, não sei se o senhor vai lembrar de mim, já fazem 8 anos que fui seu aluno no Colégio Dimensão (6-série), meu nome é Rafael Santana, hoje, sou aluno de História da UFPE (5º período) e gostaria de compartilhar um blog meu e de amigos historiadores.
amalgamadahistoria.blogspot.com

Serei um leitor assíduo, espero que o senhor dê uma passada por lá e nos prestigie com seu comentário. Tratamos levemente de Teoria da História, Tempo, Ciência, Passado-Presente-Futuro. Modernidade, cotidiano. Obrigado e Parabéns.

A Amálgama da História disse...

Sua análise, professor, fez-me lembrar e muito a música de Chico Sciense sobre o banditismo: "Banditismo por pura maldade, Banditismo por necessidade..." Talvez, os figurinos do oprimido transformem-se no tempo, mas jamais sua existência é extinta, o "banditismo" de hoje reside nas favelas, é um efeito muito mais ampliado da modernidade brasileira, não é mais trajado de roupas de couro, ou de chapéus, o caganço foi somente um dos efeitos do latifúndio e do coronelismo, dentre outros problemas. Muito bom o questionamento, pode nos levar a muitos debates, convergências e divergências. Professor Alexandre, fiquei feliz com o espaço do Blog, não sei se o senhor vai lembrar de mim, já fazem 8 anos que fui seu aluno no Colégio Dimensão (6-série), meu nome é Rafael Santana, hoje, sou aluno de História da UFPE (5º período) e gostaria de compartilhar um blog meu e de amigos historiadores.
amalgamadahistoria.blogspot.com

Serei um leitor assíduo, espero que o senhor dê uma passada por lá e nos prestigie com seu comentário. Tratamos levemente de Teoria da História, Tempo, Ciência, Passado-Presente-Futuro. Modernidade, cotidiano. Obrigado e Parabéns.

Alexandre Gangorra disse...

Claro que lembro!!!

Outro dia falei, pelo Facebook, com seu irmão (joão).
falamos sobre os tempos do Dimensão, sobre Geologia, etc.
Fico feliz pelo contato e por saber do encaminhamento de vcs quanto aos seus projetos de vida profissional..

Obrigado pelo comentário e parabéns pela iniciativa e proposta do blog (Tbm estarei a contemplar as matérias e contribuir no espaço de debates proposto por vcs).

um grande abraço