domingo, 6 de outubro de 2013

Watchmen: Geopolítica, violência urbana e a ameaça nuclear

A Guerra Fria foi marcada pela hegemonia de duas grandes potências antagônicas: EUA e URSS. A bipolarização manteve o mundo sob tensão, por meio de um conflito de ordem política, tecnológica, social e ideológica. Entre as disputas, dessas duas potências, estava a corrida armamentista. Essa corrida foi motivada pelo receio recíproco que o inimigo  passasse na frente e criasse um desequilíbrio mundial de poder.

No mesmo período, em uma série de histórias em quadrinhos, a realidade da Guerra Fria foi retratada sob um ponto de vista bem curioso. Trata-se de Watchmen, uma série clássica escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave  Gibbons, publicada em doze edições mensais pela editora DC Comics, entre 1986 e 1987.

A trama envolveu os episódios vividos por um grupo de heróis que foram forçados a se aposentar pelo governo dos EUA, e os eventos que circundam o misterioso assassinato de um deles.

Em 1965 (no mundo real), os EUA enviaram  tropas para apoiar o Vietnã do Sul (capitalista) contra o Vietnã do Norte (comunista) e,  apesar de ser uma superpotência, Os Estados Unidos acabaram sendo vencidos pela  Geografia e determinação do Vietnã do Norte. Richard Nixon negociou a retirada das forças dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, aproximou o país da República Popular da China e viajou a Moscou, onde deu impulso às negociações com a União Soviética sobre a redução de armamento.

Richard Nixon  renunciou em 9 de agosto de 1974, em virtude do escândalo Watergate, pouco antes da votação pelo Congresso da cassação de seu mandato.

Já nas páginas de Watchmen, os Estados Unidos possuíam um herói com poderes: o Dr. Manhattan. Ele, um homem que controla a radioatividade, levaria os norte-americanos à vitória no Vietnã e o presidente Richard Nixon a sucessivas reeleições. 

Além disso, sua existência permitiu avanços tecnológicos, como o fato de todos os carros serem elétricos e não precisarem mais de derivados do petróleo. Com o Dr. Manhattan do lado dos capitalistas, a balança de poder era desequilibrada, aumentando ainda mais a tensão do período. Os soviéticos temiam um ataque dos EUA amparados pelo ser superpoderoso, e por isso aguardavam apenas a primeira oportunidade de Manhattan estar desabilitado para atacarem primeiro.

Apesar das diferenças, a HQ possibilita uma análise histórica e geopolítica do anos de 1980 ao retratar um mundo que vive com medo de uma eminente guerra nuclear e, ao mesmo tempo, é carregado por ondas crescentes de violência urbana. Segundo Moore, o objetivo era analisar a relação do ser humano com o poder. Neste âmbito, o pano de fundo escolhido foi o medo da guerra nuclear representado pelo conflito soviético no Afeganistão.



Um dos personagens, Ozymandias, reflete a ideologia do consumismo, já que foi o único que se transformou em uma marca. Quase como um político, usou sua popularidade em prol de si mesmo, criando um império de produtos.


A HQ também faz referência ao Doomsday Clock, um relógio simbólico criado em 1947 para demonstrar quantas vezes o mundo já esteve perto de um colapso (Representado pela meia-noite de um relógio comum). Ele se localiza na Universidade de Chicago (EUA) e, dependendo da catástrofe que ocorre na Terra, seus minutos são alterados, aproximando ou afastando seu ponteiro da hora do Juízo Final. Os cientistas focam principalmente em fatos nucleares, ambientais e tecnológicos.

O pior momento de todos foi em 1953, quando os Estados Unidos e a União Soviética, num espaço de nove meses, testaram arsenais nucleares, o relógio marcou 11:58, apenas dois minutos para a meia-noite, ou o fim do mundo.

Em 1991, com a desintegração da União Soviética em várias repúblicas, a Guerra Fria finalmente chegou ao fim. Mas Watchmen deixa-nos uma série de questionamentos interessantes: Já pensou se os heróis altamente treinados realmente existissem? Que usos os governos fariam dos mesmos? Qual o impacto que essas figuras teriam sobre as mentes das pessoas? Como a sociedade se comportaria diante de eventuais erros desses indivíduos?

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Alexandre, o seu site é ótimo, parabèns. Sugiro como contribuição à geografia por meio dos HQ's os livros "Maus", de Art Spiegelman , que fala sobre a 2ª Guerra Mundial e o Holocausto; o"Segredo de Família", de Eric Heuvel; "A Força da Vida", de Will Eisner e "Yossel: April 19, 1943", de Joe Kubert, todos ligados ao mesmo tema.
Att
Rosália