Os quadrinhos como
mecanismo de persuasão sempre foram bem simples. Quando o leitor gosta de um
personagem, com o tempo passa a “imitar” parte de seu comportamento e a
acreditar em boa parte de seu discurso. Em sete de dezembro de 1941 ocorreu o ataque
japonês a Pearl Harbour, base militar norte-americana localizada no Havaí. Após
esse ataque, os Estados Unidos entraram oficialmente na Segunda Guerra Mundial.
E, nos EUA, era necessário inspirar na população o
nacionalismo para aumentar a certeza da vitória na guerra.
Foi então que idéias antinazistas
foram lançadas nas histórias em quadrinhos, pois assim teriam grandes chances
de serem assimiladas pelo público. Quando foram lançados os primeiros gibis mostrando
o Capitão América e outros super-heróis lutando contra o Eixo, uma boa parte da
população norte-americana ainda defendia a idéia de que os Estados Unidos
deveriam ficar afastados do conflito.
Capitão América
O primeiro gibi do Capitão América (Criado pela
dupla de desenhistas Jack Kirby e Joe Simon ) foi publicado em março de 1941 (meses
antes do ataque). O Capitão América não foi o primeiro super-herói dos gibis
norte-americanos, mas foi o primeiro herói declaradamente inimigo dos nazistas e
de tudo que possa ameaçar a democracia americana. Eram comuns
gibis as capas de HQs com os heróis socando ou ridicularizando os ditadores do
Eixo: Hitler e seus aliados, Mussolini, ditador italiano, Tojo,
primeiro-ministro japonês na época do ataque a Pearl Harbor, e o então
imperador japonês Hiroíto.
O herói, que atende
pela alcunha de “sentinela da liberdade” é patriota, corajoso, honesto,
inteligente e um líder nato. Um espelho perfeito de todas as virtudes
defendidas pelos orgulhosos cidadãos americanos. Vale lembrar que Steve
Rogers, seu alter-ego, era apenas um soldado magro e patético. Querendo fazer
diferença a qualquer custo, participa de uma experiência na qual se torna
extremamente ágil, resistente e forte, ou seja, tudo o que um supersoldado
deveria ser.
Capitão América tinha como seu principal inimigo o
Caveira Vermelha (um super-vilão
nazista). No entanto, na aparência, o Capitão América era muito mais
parecido com o ideal de "raça pura" dos nazistas do que o Caveira
Vermelha: o Capitão era alto, forte, tinha olhos azuis e, por debaixo da
máscara, o seus cabelos eram loiros, ou seja, o padrão de beleza nórdica que
Hitler tanto admirava.
Na vida real, os nazistas jamais teriam como
símbolo um soldado que usasse uma máscara em forma de caveira, até porque em
suas peças de propaganda, os nazistas gostavam de retratar a si mesmos como
belos e simpáticos, enquanto que os judeus eram retratados com aparência monstruosa.
Com o final da Segunda
Guerra o Capitão foi perdendo a popularidade e suas histórias já não vendiam
tantos quadrinhos. No fim das contas ele acabou sendo deixado de lado. Mas logo
voltaria, pois Guerra Fria dividiria o planeta em dois lados: o capitalismo do
ocidente e o comunismo do oriente (proposto principalmente pela União Soviética).
Roteiristas e desenhistas
judeus
O que teria levado os criadores desses quadrinhos a
assumirem em suas publicações uma postura antinazista?
Boa parte dos criadores dos quadrinhos tinha razões
pessoais para fazer propaganda contra o nazismo: a maioria deles era de judeus,
as principais vítimas do ódio dos nazistas. Muitos desses roteiristas e
desenhistas eram filhos ou netos de imigrantes judeus pobres que, para fugir de
perseguições na Europa, resolveram migrar para os Estados Unidos. Eles estavam
preocupados com a situação dos familiares que viviam na Europa. Entre os
roteiristas e desenhistas judeus estavam: Jerry Siegel e Joe Shuster, criadores
do Super-Homem, Bob Kane, o criador de Batman, Jack Kirby e Joe Simon,
criadores do Capitão América, e Will Eisner, o criador do detetive mascarado Spirit.
Discriminação racial
Para fugir da discriminação que os judeus também
enfrentavam nos Estados Unidos, alguns desses criadores mudaram seus nomes ou
adotaram pseudônimos que escondiam sua origem judaica, dentre eles, Bob Kane,
cujo nome verdadeiro era Robert Kahn, e Jack Kirby, cujo nome verdadeiro era
Jacob Kurtzberg.
Joe Simon e Jack Kirby |
Duas boas dicas de leitura que retratam tanto a
indústria dos gibis quanto a vida da comunidade judaica nos Estados Unidos daquela
época são "No coração da tempestade", autobiografia em quadrinhos de
Will Eisner, já publicada no Brasil, e "As aventuras de Kavalier e
Klay", romance do escritor norte-americano Michael Chabon, publicado no
Brasil pela Editora Record, que conta a história de uma dupla de primos judeus,
que juntos criam um super-herói.
2 comentários:
Irado! O Capitão América foi criado justamente para combater o nazismo, realizando o sonho de dez entre dez crianças americanas da época: dar um soco na cara de Hitler! Além dos super heróis, não podemos nos esquecer de outros presonagens como Pato Donald (em um episódio ele sonha q é um nazista) e Patolino (dando uma martelada na cabeça de Hitler). Tem tudo no youtube!
Durval (ex-aluno de Volvexandre).
Pois é! Assim como na Alemanha, os EUA tinham o Capitão América como um padrão de beleza. E, para esculhambar os nazista, deram-lhes uma aparência monstruosa. O mesmo faziam os nazistas para os judeus e comunistas (vistos sempre como alcóolatras)em seus filmes.
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