Para que haja uma melhor compreensão do tema exposto em um mapa ou cartograma são usadas convenções, que fazem parte da chamada Cartografia Temática. Além da localização, elas podem indicar a qualidade, a quantidade e a dinâmica dos fenômenos representados. Entretanto, houve uma época em que a Cartografia se destacou pela representação de regiões misteriosas e seus possíveis perigos, fazendo uso freqüente de figuras sobrenaturais.
Monstros marinhos eram comuns em mapas antigos e, principalmente, da Idade Média e Renascença: fase de expansão do conhecimento europeu acerca dos oceanos.
Ao lado, dois cães do mar (um com patas dianteiras e outro sem) um coelho marinho, e um porco do mar, em um mapa no manuscrito de Ptolomeu "Geografia" (1455-1460).
Navegar nos séculos XV e XVI era uma tarefa bastante arriscada, sobretudo quando se tratava de mares desconhecidos. O medo gerado pela falta de conhecimento e pela imaginação da época era algo muito comum, e muitos acreditavam que o mar pudesse ser habitado pelas mais variadas formas de monstros.
Navio de São Brendan nas costas de uma baleia (confundida com uma ilha), e os seus homens orando, em Honório Philoponus , "Nova typis transacta navigati" |
Marinheiros incultos foram as principais fontes para artistas e escritores que tentavam descrever a vida no oceano. Assim, seus relatos de monstros tornaram-se a base dos textos de história natural e desenhos de mapas. Estes mapas, em seguida, ajudaram a perpetuar a vida dessas criaturas. Essas criaturas estão novamente em evidência graças a uma curiosa pesquisa publicada em um livro.
Com data de 1583, e de grande preocupação estética,
essa carta mostra dois monstros marinhos
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“Sea Monsters on Medieval and Renaissance Maps” (British Library, 2013) é um livro, de autoria do cartógrafo Chet Van Duzer, que explora a história por trás de cada monstro, destacando que sua inserção na cartografia não foi apenas para indicar perigos.
Ao lado, um mapa de 1180 que mostra uma visão do disco circular da Terra (dividido em zonas climáticas) rodeado por um enorme monstro que está devorando a própria cauda.
“As representações iniciais de monstros marinhos carregavam certo valor científico”, diz o autor, “Por mais fantasiosas que estas criaturas possam parecer, os cartógrafos estavam fazendo o seu melhor para mostrar o que lhes foi dito que habitava o Oceano.”
Vários mapas antigos ostentam os monstros e serpentes marinhas, além de sereias e outras criaturas que os marinheiros, supersticiosos acreditavam existirem oceano a dentro. As criaturas parecem puramente fantásticas, mas, na verdade, muitas vêm do que foram consideradas, na época, fontes científicas.
Baleias são os maiores animais marinhos e portanto eram fonte de medo para os navegadores primitivos, como mostra a história bíblica do profeta Jonas, engolido por um "monstro" desses.
Os monstros marinhos também tiveram um uso político. Ao lado, o rei de Portugal, D. Manuel, monta uma criatura do mar próximo ao extremo sul da África, simbolizando o controle dos mares de Portugal, em 1516.
Para o autor, os monstros tinham duas funções básicas: indicações de perigos e elementos decorativos. Todavia, quando começam a ser caçadas e exploradas como recurso econômico, essas criaturas deixam de ser retratadas como uma ameaça à navegação. E, à medida que avançava o conhecimento náutico, os monstros começavam a sumir dos mapas, sendo aos poucos substituídos por ilustrações de navios.
Um comentário:
Excelente post. Informações muito interessantes e que me ajudaram bastante.
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