Pensar em quais seriam as conseqüências em um mundo dominado por um regime totalitário e apoiado pelo Superman pode mexer com a imaginação de muitos. E esse exercício de imaginação pode ser trabalhado, associado às aulas de Geografia e História, com uma boa leitura da Hq " Superman – Entre a Foice e o Martelo".
Publicada em 2003, a história, originalmente intitulada de Red Son, mostra uma realidade alternativa na qual a nave do personagem, ainda bebê, escapando da explosão de Krypton, aterrissa em algum lugar da Ucrânia, sendo criado em uma fazenda coletiva e, quando seus poderes são descobertos pelo Kremlin, passa a ser usado como uma arma de intimidação por Stalin para ampliar a influência comunista no mundo.
O clima de repressão política é bem forte, e a Hq expõe as falhas existentes em um regime totalitário, assim como mostra a realidade antagônica existente entre dois modelos econômicos: o capitalismo e comunismo. O fato de a história trazer também citações de eventos e pessoas reais, mostra a divergência entre esses modelos durante a Guerra Fria.
Um sistema de governo é totalitário quando tenta conformar os cidadãos dentro de uma ideologia, fazendo uso de mecanismos de controle e coação, e, ao mesmo tempo, buscado mobilizá-los . No regime totalitário, é comum o uso excessivo de força militar como forma de reprimir qualquer tipo de oposição que seja feita, assim como a censura e o controle dos meios de comunicação.
No totalitarismo é permitido um só partido político, chefiado por um líder absoluto, que se mantém no poder usando a força e a violência. Outra de suas características é o sentimento de superioridade e xenofobismo, que podem ser usados para validar expansões territoriais. O primeiro Estado totalitário moderno foi criado com a Revolução Comunista na Rússia, em 1917.
Ambientada no contexto da Guerra Fria, a história em quadrinhos começa com uma entrevista coletiva do presidente norte-americano, Eisenhower, na qual reconhece que a União Soviética dispõe de uma arma mais poderosa que a bomba de hidrogênio, gerando pânico entre os norte-americanos.
A propaganda soviética apresenta Superman como um campeão da
ideologia comunista e defensor da expansão do Pacto de Varsóvia. Superman se torna um ditador tirano,
controlando os revoltosos e os transformando em fantoches com uma técnica de
controle mental. Sob o comando de dele (que assume o controle após da morte de
Stalin) o regime toma conta de praticamente todo o mundo. O personagem
freqüentemente usa seus super-poderes para vigiar o mundo inteiro,
monitorando conversas, comportamentos e possíveis ameaças.
Estados Unidos e Chile são os últimos redutos da sistema capitalista. Outras pessoas, inteligentes e poderosas, contestam o domínio de Superman, e fazem grandes esforços para derrubar o sistema. Há um Batman (cujos pais lutavam contra a ditadura soviética e foram mortos) que luta sozinho para combater a tirania, sendo considerado um terrorista, e um Lex Luthor cujo maior interesse não é bem a democracia, e sim vencer o tirano comunista.
Entre vários acontecimentos, Superman repensa sua postura e se vê obrigado a desaparecer para evitar sua destruição e, aparentemente, é derrotado por Luthor, que se transforma em líder mundial sob o novo sistema (capitalista), que agora inclui a própria União Soviética.
Além de conceitos comuns em Geopolítica (bem recorridos nas aulas de Geografia e História) a série mostra outros pontos sugestivos para discussões. O primeiro é o fato de que o sistema comunista não é capaz de ter um crescimento exponencial tão expressivo, como nos faz crer o autor. É um sistema que distribui a pobreza, não a riqueza, porque é incapaz de produzi-la. Já o segundo ponto nos mostra que tanto Superman quanto Lex Luthor trabalharam para mudar o mundo através de manipulação de mídia e do controle excessivo do sistema em que se vive, mostrando que um estado totalitário pode contar com o apoio popular mesmo em suas atitudes anti-democráticas.
“Superman – Entre a Foice e o Martelo” é um clássico das HQs escrito por Mark Millar e ilustrado por Dave Johnson.
Recomendo a leitura e a própria Hq como um recursos didático.
Obs: o final da história é surpreendente!
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