domingo, 30 de março de 2008

A Geografia e o lendário reino de Preste João

Preste João em seu trono
Preste João seria o soberano de um poderoso reino cristão perdido, distante da Europa e cercado por inimigos muçulmanos e pagãos.  O mito ganhou força no sé. XII quando começaram a se espalhar pela Europa cópias de uma suposta carta de Preste João destinadas ao Papa e aos imperadores Manuel Comneno, de Constantinopla, e Frederico Barba-Ruiva, da Alemanha (os três maiores governantes da cristandade). A carta descrevia um reino perdido poderoso e bastante exótico.

A lenda do Prestes João foi alimentada pela existência de dois grandes grupos cristãos primitivos isolados da cristandade ocidental e jamais submetidos à autoridade papal: os coptas, na região da Abissínia (a atual Etiópia) e os nestorianos que se implantaram na Ásia, atingindo algumas zonas da Índia (os famosos "cristãos de S. Tomé", cujas comunidades teriam, segundo a lenda, sido fundadas pelo apóstolo) e da Tartária, onde foram convertidos os turcos Kereitas e algumas tribos mongóis.

Preste João era um rei e sacerdote cristão, um misterioso soberano, suserano de muitas dezenas de vassalos. Tão misterioso, que o seu reino se situara sucessivamente na Mesopotâmia, na China, nas Índias, na Arábia, na África Ocidental e, finalmente, na Etiópia.

O mito do reino cristão perdido só teve espaço para se difundir durante a Idade Média porque o conhecimento do globo terrestre era muito pequeno na época, com os europeus ignorando o que havia em várias regiões da África e da Ásia.

Representação do Mundo ao final da Idade Média

Mapa do Reino de Preste João
Na Geografia medieval, dividia-se o mundo em três partes, Europa, Ásia e a África sendo essas duas ultimas algumas vezes separadas pelo rio Nilo. A África que se estendia ao oeste do Egito, e a Etiópia seria várias vezes incluída na Índia. Por exemplo, nos finais do século XIII, Marco Polo distinguia três Índias, a Maior, a Menor e a Média. E nesta última, também chamada "India Ethiopica".

Durante séculos, vários soberanos europeus mandaram mensageiros para Ásia e para a África na tentativa de fazer contato com esse suposto reino. Na segunda metade do século VI, com a publicação e divulgação, pela Europa, do relato da sua estadia de seis anos, no reino de Preste João, o Pe. Francisco Álvares derrubava o lado mítico dessa lenda e apresentava a primeira informação fidedigna sobre a terra, os costumes e a fé professada na Etiópia. Ele descreve toda a terra com a informação das suas fronteiras, as origens das grandes águas do Nilo; trata da riqueza da terra, dos cereais; menciona os animais e as aves, destacando o elefante; descreve a natureza e costumes dos abássios e sua religião.

A partir do século 17, com o avanço do pensamento científico, a lenda do Preste João perdeu seu brilho e ficou claro que a tal carta para o imperador bizantino era uma fraude.

Etiópia atual - Cristãos recebem a benção
ao lado da igreja Bet Maryam

Preste João em HQ da Marvel
Atualmente, a lenda continua ganhando espaço no mundo da ficção. O escritor italiano Umberto Eco, por exemplo, descreveu em detalhes o Reino do Preste João no livro Baudolino (2000). E até mesmo a Marvel  já colocou a terra imaginária em HQs do Thor e do Quarteto Fantástico.


A procura do Reino de Preste João favoreceu um encontro de culturas. Hoje, o contato com o diferente, sendo um convite à reflexão, pode dar ao humanidade o desabrochar da tolerância.

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