Preste João em seu trono |
Preste João seria o soberano de um poderoso reino
cristão perdido, distante da Europa e cercado por inimigos muçulmanos e pagãos.
O mito ganhou força no sé. XII quando começaram a
se espalhar pela Europa cópias de uma suposta carta de Preste João destinadas
ao Papa e aos imperadores Manuel Comneno, de Constantinopla, e Frederico
Barba-Ruiva, da Alemanha (os três maiores governantes da cristandade). A carta
descrevia um reino perdido poderoso e bastante exótico.
A lenda do Prestes João foi
alimentada pela existência de dois grandes grupos cristãos primitivos isolados
da cristandade ocidental e jamais submetidos à autoridade papal: os coptas, na
região da Abissínia (a atual Etiópia) e os nestorianos que se implantaram na
Ásia, atingindo algumas zonas da Índia (os famosos "cristãos de S.
Tomé", cujas comunidades teriam, segundo a lenda, sido fundadas pelo apóstolo)
e da Tartária, onde foram convertidos os turcos Kereitas e algumas tribos
mongóis.
Preste João
era um rei e sacerdote cristão, um misterioso soberano, suserano de muitas
dezenas de vassalos. Tão misterioso, que o seu reino se situara sucessivamente
na Mesopotâmia, na China, nas Índias, na Arábia, na África Ocidental e,
finalmente, na Etiópia.
O mito do reino cristão perdido só teve espaço para se difundir durante
a Idade Média porque o conhecimento do globo terrestre era muito pequeno na
época, com os europeus ignorando o que havia em várias regiões da África e da
Ásia.
Representação do Mundo ao final da Idade Média |
Mapa do Reino de Preste João |
Na Geografia
medieval, dividia-se o mundo em três partes, Europa, Ásia e a África sendo essas duas ultimas algumas vezes separadas
pelo rio Nilo. A África que se estendia ao oeste do Egito, e a Etiópia seria
várias vezes incluída na Índia. Por exemplo, nos finais do século XIII, Marco
Polo distinguia três Índias, a Maior, a Menor e a Média. E nesta última, também
chamada "India Ethiopica".
Durante séculos, vários soberanos europeus mandaram mensageiros para
Ásia e para a África na tentativa de fazer contato com esse suposto reino. Na segunda
metade do século VI, com a publicação e divulgação, pela Europa, do relato da
sua estadia de seis anos, no reino de Preste João, o Pe. Francisco Álvares derrubava
o lado mítico dessa lenda e apresentava a primeira informação fidedigna sobre a
terra, os costumes e a fé professada na Etiópia. Ele descreve toda a terra com
a informação das suas fronteiras, as origens das grandes águas do Nilo; trata
da riqueza da terra, dos cereais; menciona os animais e as aves, destacando o
elefante; descreve a natureza e costumes dos abássios e sua religião.
A partir do século 17, com o avanço do pensamento científico, a lenda do
Preste João perdeu seu brilho e ficou claro que a tal carta para o imperador
bizantino era uma fraude.
Etiópia atual - Cristãos recebem a benção ao lado da igreja Bet Maryam |
Preste João em HQ da Marvel |
Atualmente, a lenda continua ganhando espaço no mundo da ficção. O escritor
italiano Umberto Eco, por exemplo, descreveu em detalhes o Reino do Preste João
no livro Baudolino (2000). E até mesmo a Marvel já colocou a terra imaginária em HQs do Thor e do Quarteto
Fantástico.
A procura do
Reino de Preste João favoreceu um encontro de culturas. Hoje, o contato
com o diferente, sendo um convite à reflexão, pode dar ao humanidade o
desabrochar da tolerância.
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